O nosso percurso para visitar esta presença comboniana em Moçambique começa pela cidade de Maputo, onde os Combonianos dão corpo desde 1982 a uma presença missionária na periferia norte da cidade, na zona de Benfica, no Bairro Jorge Dimitrof.
Eram anos conturbados, com milhares de pessoas a fugirem do Norte e Centro do país, para evitarem os horrores da guerrilha. A zona de Benfica, na altura bastante desabitada, acabou por acolher milhares de deslocados. O P.e João Romano, madeirense, morto em 1974, tinha começado uma presença cristã, construindo uma pequena igreja no local. O comboniano P.e João Zani juntou a esta igreja a pequena casa paroquial e a casa das irmãs.
Missão na periferia
Eram anos em que se repensava também o modelo de missão e se procurava dar respostas aos desafios que a missão enfrentava nos meios urbanos, particularmente nas periferias. Ajudar os deslocados a encontrarem condições mínimas de vida era uma questão incontornável naqueles anos. Os Combonianos optaram por se envolver na educação das crianças e dos jovens, ajudando os pais a construírem e gerirem uma escola comunitária.
Aos poucos, fruto do empenho das pessoas da comunidade cristã, das ajudas de fora, nomeadamente da cooperação da Noruega, no bairro de Benfica nasceu a Escola Comunitária S. Francisco Xavier. A escola é da paróquia, gerida com o envolvimento das famílias, tem os professores pagos pelo Governo e compreende um jardim-infantil e pré-primário, com cerca de 100 crianças, e a Escola Primária, com cerca de 800 alunos. No jardim-infantil as crianças tomam o pequeno-almoço e almoço. Na primária, há dois turnos de alunos por dia: um de manhã, das 7h30 às 12h00 e outro de tarde.
Nas instalações da escola funciona também um curso de alfabetização informal para adultos, sobretudo mulheres: monitoras ajudam as cerca de 100 alunas a aprender a ler, escrever e contar para se lançarem em algum pequeno negócio e assim melhorarem a sua condição de vida e das suas famílias. Na escola funcionam igualmente cursos nocturnos para trabalhadores-estudantes, que vão do 8.º ao 12.º ano, para completarem o ciclo secundário: estes cursos são frequentados por 350 alunos.
Igreja a crescer
No bairro vive uma activa comunidade cristã. A pequena igreja, construída pelo P.e Romano, é hoje insuficiente para receber os fiéis que se reúnem para a Eucaristia dominical. Esta é celebrada no salão polivalente da escola, enquanto na pequena igreja se reúnem as crianças da catequese para a sua celebração. Além da Eucaristia dominical, que se realiza no salão, há celebrações dominicais em quatro comunidades que integram a paróquia. Estas celebrações são eucarísticas quando há sacerdotes. Se os não houver, são celebrações da Palavra, presididas e organizadas pelos leigos.
No bairro de Benfica, os leigos são o rosto da Igreja, garantem a proximidade que os dois sacerdotes não conseguem assegurar. Os grupos dos catequistas e da Legião de Maria ajudam os cristãos a viverem a fé no quotidiano. Os grupos da Caritas procuram individuar e dar resposta às situações de carência mais gritantes: fazem campanhas para recolher alimentos e vestidos e socorrer os mais necessitados. Os ministros da Esperança estão atentos às situações de doença e morte, acompanhando as famílias na assistência aos doentes, nos funerais e no luto. Os ministros da Comunhão levam o conforto da Eucaristia aos que estão doentes nas várias comunidades do bairro.
Actualmente, além do centro da paróquia, há mais quatro comunidades cristãs no bairro. Mas já foram mais, exactamente 13. A paróquia do Benfica foi recentemente dividida: seis das comunidades constituíram a nova paróquia da Santíssima Trindade, entregue aos cuidados de um instituto missionário italiano, de recente fundação e chegada a Moçambique.
Esta periferia norte da cidade de Maputo tem continuado a expandir-se, mesmo sem grande planeamento urbanístico: as estradas interiores são de terra batida; os talhões para a construção das casas são pequenos; as casas são de materiais pobres. A situação sanitária das populações tem melhorado, mas a malária e a sida continuam a fazer as suas vítimas. Em termos de evangelização e de pastoral, os jovens são o grande desafio que inquieta o P.e Leonel Bettini e o P.e Tesfaye Erbello, os dois combonianos que vivem no bairro. «O desafio maior é preparar líderes cristãos jovens», sublinha o P.e Leonel, «pois no bairro os jovens são alvo de muitas solicitações, nem sempre benéficas, e dispersam-se... Temos de centrar mais a evangelização nos jovens». O P.e Tesfaye, um jovem comboniano, natural da Etiópia e recém-ordenado, tem diante de si esta tarefa de aproximar a Igreja aos jovens do bairro.